O que é importante saber sobre a medula óssea

Muito se fala em doação de medula óssea, mas pouco se sabe, ainda, sobre o que é a medula óssea e como a sua doação pode salvar inúmeras vidas.

Primeiro, a medula é um tecido líquido gelatinoso que fica dentro dos ossos, o conhecido “tutano”, e é nela que são produzidos os componentes do sangue (glóbulos brancos, vermelhos e plaquetas).

Nosso corpo é, realmente, uma máquina, e a medula óssea é a fábrica que produz o sangue, ou seja, que faz todo o sistema funcionar continuamente.

No caso, os glóbulos vermelhos (hemácias) transportam o oxigênio dos pulmões para as células de todo o nosso organismo e o gás carbônico das células para os pulmões, a fim de ser expirado.

Os glóbulos brancos (leucócitos) nos defendem das infecções e as plaquetas compõem o sistema de coagulação do sangue.

Inclusive, a célula que origina as células sanguíneas, chamada célula progenitora ou célula-mãe, está concentrada em maior quantidade na medula óssea, o que também explica a ideia de fábrica e, portanto, da doação de medula óssea. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca) o transplante de medula é um tipo de tratamento indicado para algumas doenças que afetam as células do sangue e consiste na substituição da “fábrica” deficitária por uma nova, com células saudáveis.

Com o tempo, o objetivo é reconstruir uma nova “fábrica saudável” de pacientes com leucemias, ou linfomas, por exemplo.

O transplante é um processo delicado, onde são realizados exames de sangue para identificar se existe a compatibilidade entre o doador e o receptor. Essa compatibilidade é fundamental para evitar processos de rejeição, que é quando a medula do paciente não “aceita” a do doador ou até mesmo quando a medula do doador “invade” e “agride” a do paciente.

Refiro-me aqui aos casos de transplante alogênico, que é quando a medula vem de um doador. Existe outro tipo de transplante de medula óssea chamado autólogo.

Identificado a compatibilidade, o doador passa por um processo “cirúrgico” onde são realizadas punções, com agulhas, nos ossos posteriores da bacia para “sugar” a medula saudável.

Hoje também podemos colher estas células primordiais do doador, através da veias periféricas ( braço, por exemplo), utilizando um procedimento chamado aférese, evitando a punção na bacia. É fundamental frisar que essa retirada não causa qualquer comprometimento à saúde e a medula óssea do doador se recompõe em apenas 15 dias, tal como quando doamos sangue.

Já para o paciente o cuidado deve ser maior, porque para receber a medula, as células doentes devem ser destruídas, para então receber a nova “fábrica”.

Este é um momento que exige muito cuidado e acompanhamento, uma vez que o paciente fica com a imunidade mais fragilizada. Mas, uma vez que deu tudo certo e a medula do doador chega à corrente sanguínea, as células “boas” circulam e vão se alojar na medula óssea, onde se desenvolvem.

Para ser doador de medula e salvar vidas, é preciso ter, segundo o Ministério da Saúde, entre 18 e 55 anos de idade, estar em bom estado geral de saúde e não ter doença infecciosa transmissível pelo sangue.

Seguindo os critérios estabelecidos, o doador deve fazer um cadastro, onde serão colhidos 5ml do seu sangue. Este cadastro é feito no Hemocentro de sua cidade.

O sangue é examinado para determinar as características genéticas e assim ser cadastrado no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME). Com as informações genéticas do paciente já cadastrados, o sistema cruza as informações e identifica a compatibilidade. Lembrando que o doador que vai decidir se fará a doação ou não.

Na verdade, ser doador de medula óssea é um procedimento simples. Você que é saudável, pense no poder da máquina que é o seu corpo e o quando a medula é a fábrica que faz tudo funcionar.

Ter a oportunidade de oferecer ao outro uma nova fábrica saudável e, assim, dar esperanças de vida, não tem preço!

Dr. André Crepaldi é oncologista clínico e integra as equipes da Oncolog e Clínica Vida Diagnóstico e Saúde