Menos queimadas e mais testes podem evitar colapso da Saúde, diz médico

Apenas a ampliação do período proibitivo para queimadas em Mato Grosso não vai livrar o sistema público de Saúde do colapso, que ameaça se instaurar pela união entre o coronavírus e outras doenças respiratórias, comuns no período de estiagem.

O clima seco, que já começou e seguirá até o final do ano, sempre foi propício para doenças pulmonares e, em tempos de pandemia, um fato preocupante é que algumas delas – como asma, bronquite e outras que afetam os pulmões – têm sintomas muito semelhantes aos causados pela covid-19.

Por conta disso, o médico pneumologista Clovis Botelho defende que o governo precisa ampliar o número de testes para o novo coronavírus, principalmente nos atendimentos primários, além de reforçar a vacinação contra gripe e atuar fortemente contra as queimadas urbanas.

Vacinação contra gripe pode diminuir o aparecimentos dos casos graves  (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Ele adverte que os pacientes precisam ser atendidos antes de procurarem as unidades com maior demanda. Isso reduziria o risco de contaminação, que pode ser letal. A constatação tem como justificativa o fato de a pessoa já estar com o pulmão – órgão mais atingido pelo coronavírus – comprometido.

“Eu já fiz uma pesquisa no pronto-socorro de Cuiabá e, naquela época, quando não existia coronavírus, 50% das internações no período de estiagem eram motivadas por síndrome respiratória aguda grave“, pontua.

Entre os mais atingidos pela síndrome estão as crianças e os idosos, sendo os últimos considerados grupo de risco para a covid.

Botelho esclarece que os mais jovens, geralmente, são afetados porque os pulmões estão em formação até os 8 anos de vida. No caso dos mais velhos, é natural a deterioração dos órgãos e declínio das defesas do organismo com a idade.

“É preciso o aumento dos testes no início dos sintomas. Assim, é possível dar os encaminhamentos corretos para os casos positivos e também descartar os que não são“, argumenta.

Outro ponto importante, na visão do profissional, é a massificação da vacinação contra a gripe porque a dose previne a doença e reduz a quantidade de pacientes graves.

Queimadas

Conforme o médico, a ampliação da proibição das queimadas rurais e urbanas precisa ser vista com urgência pelo governo. Os casos envolvendo terrenos baldios e até mesmo o uso de fogo para eliminar folhas no fundo do quintal não podem ser tolerados na atual situação.

O clima seco favorece o impacto das toxinas trazidas pela fumaça, que une-se com os poluentes que estão no ar e resultam em tosse seca, falta de ar, dificuldade para respirar, dor e ardência na garganta, rouquidão, dor de cabeça, lacrimejamento e vermelhidão nos olhos.

Todos estes sintomas podem ser sinais do desencadeamento de alergias, pneumonia, problemas cardiovasculares e insuficiência respiratória.

Período proibitivo

No começo do mês, o governo de Mato Grosso anunciou a antecipação do período de queimadas, previsto inicialmente para ser entre 15 de julho e 15 de setembro. Com a alteração, as datas limites passariam para 1º de julho e 1º de setembro.

A decisão não agradou o Ministério Público do Estado que quer uma ampliação ainda maior do prazo, por conta da situação excepcional causada pela pandemia.

Uma alteração que também foi defendida pelo deputado estadual Lúdio Cabral (PT) na Assembleia Legislativa. Ele apresentou um Projeto de Lei Complementar que amplia de 3 meses para 6 meses o período proibitivo.

Caso seja aprovado, para este ano, a prorrogação valerá apenas por mais dois meses além do estipulado pelo governo. No texto, ele prevê que proibição seja entre 15 de maio e 15 de novembro.

Como já estamos em junho e a data estabelecida para fechamento da restrição é setembro, seriam mais dois meses de ampliação.

Fonte: O Livre