O jornal O Globo realizou nesta segunda-feira (19) uma live que discutiu sobre o “Novo Médico”, em celebração a data que comemora a profissão. Entre os convidados para debater o tema estava a pediatra e patologista Natasha Slhessarenko, conselheira do Conselho Federal de Medicina (CFM), que reforça em sua fala a importância de habilidades afetivas nos profissionais da saúde.
Além de Slhessarenko, o debate, que foi mediado pela jornalista Ana Lucia Azevedo, teve como convidados Alexandre Siciliano, diretor médico do hospital Pró-Cardíaco, Romeu Domingues, cochairman do Conselho da Dasa, e Júlio de Angeli, VP de Inovação Serviços Digitais da Afva.
Durante a live, Slhessarenko explica que a formação dos novos médicos estão se atualizando e a tecnologia acrescenta muitas técnicas ao profissional, mas existem habilidades que precisam ser mantidas e cultivadas no aluno que logo irá para o mercado de trabalho e terá acesso aos pacientes.
“Com certeza certas habilidades fazem parte da essência do médico, independente da inovação tecnológica, da era cibernética. O médico precisa saber escutar o paciente, ter paciência, fazer um bom exame físico, ter a habilidade cognitiva para formular uma hipótese diagnósticas e por último, talvez o mais importante, é a capacidade de lidar com a emoção do paciente, ter a habilidade afetiva de se colocar no lugar, ter empatia e isso a máquina não substitui”.
A médica reforça que a tecnologia deve estar a favor dos médicos, mas o profissional não pode perder a sua essência.
Para a patologista, que é professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e diretora responsável técnica da Clínica Vida Diagnóstico e Saúde, as faculdades de medicina precisam se preocupar com a formação dos alunos. Os estudantes estão cada vez mais ansiosos, depressivos, imediatistas, diante de um curso que leva seis anos de formação, mais três anos de residência, no mínimo, e sofre constantes modificações.
Natasha Slhessarenko aponta que percebe uma grande mudança no perfil dos alunos de medicina. Para ela, anos atrás os estudantes se preparavam durante toda sua trajetória de ensino para se submeter a um curso que exigiria muito para o ingresso.
“Hoje todos podem fazer medicina e isso é maravilhoso, é democrático, é sensacional. Mas agora, muitas vezes, o aluno vai com a impressão de que medicina é glamour, que com a medicina vai ficar rico, que a medicina é fantástica, e não é isso. A medicina é uma ciência linda e maravilhosa. Eu sempre digo aos meus alunos ‘se mil vidas eu tivesse, em mil vidas eu faria medicina’. O médico, além de gostar de estudar e ter essas outras habilidades, ele precisa ser gente, ser humano, entrar na vida do paciente”.
A médica pontua que, para ela, a empatia é algo que nasce com o indivíduo. O dinheiro seria consequência do trabalho.
“Se o aluno for fazer a medicina para ser rico, ele vai ser frustrado. Ele nunca vai ser capaz de superar aquilo as suas expectativas. Ele precisa ter o dinheiro como consequência de um trabalho bem feito, de uma medicina ética, descente, que faz a diferença para a população”.
Slhessarenko finaliza o tema ao acrescentar que talvez a empatia possa ser desenvolvida a partir da convivência com professores que inspirem, que sirvam de exemplo de motivação ao serem apaixonados pela profissão.