A quarentena motivada pela pandemia do novo coronavírus virou de cabeça para baixo a rotina dos pais, sobretudo dos divorciados que compartilham a guarda dos filhos como mostra esta matéria do portal Metrópoles, com sede em Brasília (DF).
Acostumados a ter direitos e deveres bem estabelecidos pela Justiça, esses tutores foram obrigados a rever a tradicional divisão de tarefas para respeitar o isolamento social. Muitos abdicaram de seus dias ao lado dos pequenos ou, numa tentativa de manter o contato com eles, decidiram voltar a morar na mesma casa que o ex.
A engenheira civil Monique Andrade (foto em destaque) é uma dessas pessoas que topou encarar a quarentena sobre o mesmo teto que o ex. A brasiliense de 36 anos foi quem convidou o antigo parceiro para passar o período de confinamento em sua casa. A intenção era não afastar o pequeno Bento, 6, do pai.
“Após o nosso rompimento, o meu ex-marido foi morar com os pais idosos, grupo de risco da Covid-19. Por isso, logo no início da pandemia, determinados que o ‘leva e traz’ da guarda compartilhada não seria apropriado. Mas isolar o Bento da figura paterna também não me pareceu ideal”, revela Monique. Foi quando ela teve a ideia de propor o convite, aceito de imediato.
“A decisão foi acertada. Além de evitar a contaminação dos avós, meu filho fica perto de ambos os pais neste momento tão frágil para a saúde, física e mental. Eu também saí ganhando nessa história. Ao invés de passar a temporada de confinamento sobrecarregada, posso dividir as responsabilidades e os afazeres domésticos com outro adulto”, pondera.
Ela conta que a convivência tem sido harmoniosa. “Dormimos em quatros separados, óbvio, e temos deveres bem definidos. É claro que a boa experiência só é possível graças ao nosso bom relacionamento, que continuou amigável mesmo após a separação”, pontua.
A escritora Tatiana Sabadini, 38, encontrou outra maneira de dividir as tarefas com o ex-parceiro.
“Estamos separados há dois anos e temos três filhos. Antes da pandemia, eu ficava com as crianças dia sim, dia não. Agora, aumentamos esse prazo para ter menos ‘vai e vem’”, diz.
O novo arranjo tem dado tão certo que a moradora do Distrito Federal e seu ex-marido cogitam adotá-lo por definitivo. “O coronavírus chegou para nos fazer repensar diversos aspectos da vida, inclusive esse”, declara.
Neste momento de combate à pandemia, o “vai e vem” das crianças deve ser, de fato, reduzido. Quem afirma é a pediatra do Laboratório Exame Natasha Slhessarenko. “Conforme aponta a Organização Mundial da Saúde (OMS), o isolamento social é a melhor maneira de frear a contaminação por coronavírus”, alerta.
“Por isso, a recomendação é dar uma pausa na guarda compartilhada e escolher uma das casas para deixar os filhos. O sacrifício durará por poucas semanas, até a situação se normalizar”, consola.
Para também garantir a saúde mental dos pequenos em meio ao surto, os ex-companheiros que decidiram enfrentar a fase de confinamento juntos devem se atentar a alguns cuidados.
“É preciso estabelecer regras de convivência para não reacender as brigas do passado que culminaram no término. Também é primordial explicar, com clareza, a nova rotina aos filhos, ressaltando que ela é passageira. Assim, os pequenos não se frustrarão quando os tutores voltarem a viver separadamente”, orienta a psicóloga parental Luciana Rocha.
Para os pais que optaram por abrir mão dos dias com os filhos, a solução é contar com a ajuda da tecnologia para se fazer presente.
“O genitor não deve se ausentar das responsabilidades por estar longe. É importante ele auxiliar as crianças com os deveres de casa através de videochamadas, por exemplo. Esse pai ainda deve contribuir com a rotina de quem assumiu temporariamente as rédeas dos cuidados com os filhos. Uma boa maneira de fazer isso? Realizar e entregar as compras de supermercado”, sugere.
Dra. Natasha Slhessarenko é pediatra e patologista, responsável técnica pela Clínica Vida Diagnóstico e Saúde, de Várzea Grande (MT).