Por Natasha Slhessarenko
A endometriose ganhou muita visibilidade depois do diagnóstico da cantora Anitta, ocorrido na última semana. Por nove anos ela sofreu com dores intensas e não conseguia identificar a causa daquele desconforto por vezes incapacitante.
Foi só depois de fazer uma ressonância, que descobriu o que tinha e resolveu fazer do seu caso um alerta às demais mulheres que podem estar na mesma situação.
Eu também sofri com a endometriose. Descobri aos 29 anos de idade, depois de cerca de 6 anos de sofrimento, que tinha a doença grau 4, considerado o mais crítico. Sentia muita dor em cólica durante a menstruação.
Mas afinal, o que é endometriose?
Podemos dizer que é considerada a doença da mulher moderna. Isso porque no tempo em que vivemos, as mulheres têm cada vez menos filhos e optam pela gravidez mais tardia, fazendo com que fiquem mais tempo expostas a ação do hormônio estrogênio. Além disso, costumam ser mulheres que vivem com altos índices de estresse.
Para fazer um comparativo, índias, que dão à luz mais cedo e possuem um número maior de filhos, não registram casos de endometriose, assim como as nossas antepassadas.
O endométrio é a camada que reveste o útero e mensalmente se prepara para receber o zigoto (quando há a fusão do óvulo e do espermatozoide). Quando não ocorre a fecundação, há a descamação do endométrio, que é a menstruação.
Na endometriose, as células do endométrio se implantam em outros locais, como intestino, ovários, cavidade abdominal, trompas, bexiga, dentre outros. É o que se chama de menstruação retrógrada. Ao invés de ser eliminada pela vagina, o sangramento vai para dentro do organismo. E isso causa muita dor, pois o implante destas células causa inflamação. A endometriose é uma doença que provoca muita inflamação.
Os sintomas mais comuns são cólicas menstruais intensas, que podem inviabilizar a realização de qualquer atividade. Dor na relação sexual, dor para evacuar ou fazer xixi também podem ser sintomas associados. A endometriose pode levar a dificuldade para engravidar. Estima-se que 50% dos casos de infertilidade ocorram pela presença dessa doença.
Conforme a Organização Mundial de Saúde, a estimativa é que no Brasil 15% das mulheres sofram com endometriose. Você sabe o que isso significa? Que cerca de 7 milhões de mulheres sofrem com esse quadro. O mais complicado é saber que o diagnóstico pode levar muitos anos, como aconteceu com a Anitta e comigo. Por isso é muito importante ter políticas públicas para o diagnóstico precoce, ter centros de atenção voltados ao diagnóstico e acompanhamento da endometriose. É inadmissível que mulheres continuem sofrendo anos a fio sem diagnóstico. Precisamos salientar que sentir dor não é normal.
Aos 29 anos, quando descobri meu quadro de endometriose, precisei ser submetida a uma cirurgia (videolaparoscopia), que é uma das formas de tratamento, que retirou parte do ovário esquerdo e muitos focos profundos, atrás do útero. Nesse período eu ainda não tinha filhos.
Logo depois do procedimento cirúrgico, ocorrido em junho de 1996, comecei a tomar hormônios para inibir a ovulação (naquela época ainda se fazia) e consequentemente, impedir a ação do estrogênio.
Na ocasião, em razão deste tratamento, tinha todos os sintomas de uma mulher menopausada. Meu namorado, que depois tornou-se meu marido, foi muito importante e amoroso. Faz muita diferença a presença e carinho do parceiro neste momento.
Hoje o tratamento é outro, mas foi a cirurgia o procedimento mais resolutivo.
Em fevereiro de 1997 recebi a melhor notícia da minha vida. Estava grávida da minha primeira filha, a Marina. Logo depois de dar à luz, engravidei novamente, foi outra notícia maravilhosa, outro momento mágico da minha vida, estava grávida da Maria Eduarda! No entanto, depois do segundo parto comecei a apresentar novamente sintomas da endometriose.
Além do DIU de progesterona, fui orientada a fazer atividade física e cuidar da mente.
Foi aí que a atividade física entrou de vez na minha vida e fez toda diferença. Exercitar-se produz citocinas anti-inflamatórias que ajudam no controle da doença. Como a endometriose é uma doença inflamatória, movimentar o corpo ajuda a combater o quadro.
Comecei a andar. Depois a correr, trotando. Quando percebi, já estava correndo 20 quilômetros por dia. Mas, acabei por lesionar o joelho por não fortalecer a musculatura que o sustenta. Desenvolvi uma doença articular e agora estou mais contida no correr. Faço caminhadas rápidas. Mesmo com o problema no joelho, não abandonei a atividade física e sinto muita falta quando alguma programação impede minha prática diária.
Então mulheres, fica o alerta que gostaria de deixar com este artigo, sentir dor não é normal.
Procure ajuda especializada caso tenha algum dos sintomas e lembre-se de que a endometriose pode ser controlada! Além disso, quero deixar duas dicas: faça atividade física (o que gostar) e sempre que viajar, leve roupa que permita você se exercitar!
*Natasha Slhessarenko é médica pediatra e patologista clínica e tem atuado fortemente contra a desinformação