Cuiabá é uma das capitais com maior percentual de obesos

Dra. Natasha Slhessarenko

De acordo com um estudo publicado em março de 2024 na revista científica The Lancet e apoiado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de um bilhão de pessoas no mundo, ou seja, 1 em cada 8, vivem com obesidade.

No Brasil, porém, a proporção considerando a população adulta já é de 1 pessoa com a doença a cada 4, apontam dados da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) 2023, monitoramento anual do Ministério da Saúde.

Segundo o levantamento, 24,3% dos adultos brasileiros são obesos – percentual que chega a ser de 32,6% entre homens de 45 a 54 anos, praticamente 1 a cada 3. Na outra ponta, a proporção mais baixa é entre mulheres de 18 a 24 anos, faixa em que 11,8%, 1 a cada 10, têm obesidade.

Trazendo o cenário para Mato Grosso, Cuiabá é a quarta capital brasileira com maior percentual de adultos com obesidade (27,2%), de acordo com a pesquisa da Vigitel, “perdendo” apenas para Macapá (30,4%), Porto Alegre (28,3%) e Fortaleza (27,7%).

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), obesidade é o excesso de gordura corporal que pode causar prejuízos à saúde. É uma doença crônica que afeta, em diferentes proporções, pessoas de todas as idades e todos os grupos sociais em países ao redor do globo.

Por sua natureza multifatorial, a obesidade apresenta diversas causas que podem provocar o surgimento ou agravamento da doença. Para além das questões genéticas, o ambiente em que se vive exerce influência na adoção e na manutenção de uma vida mais saudável.

Vivemos em um ambiente obesogênico. Os alimentos estão mais disponíveis, a comida é de pior qualidade, além das porções serem muito mais generosas. Até 20 anos atrás, por exemplo, comprávamos saquinhos de pipoca, hoje se compra pipoca em balde. Refrigerante era vendido em copos, hoje se compra refil e você toma o quanto quiser. Existe sanduíche com 3 hambúrgueres!

Este ambiente obesogênico é promotor e facilitador de escolhas alimentares pouco saudáveis e está em todos os lugares: em casa, na vizinhança, nas escolas, nas universidades e nos locais de trabalho.

Para agravar a situação, a adoção de comportamentos sedentários, dificultam a prática regular de atividade física. O conforto faz com que não precisemos mais sequer levantar para desligar a TV ou abrir um portão, basta apertar um botão. Em nome do medo, que é um fato real, ao invés de estarem na rua correndo, jogando bola e andando de bicicleta, as crianças estão em casa na frente do celular, computador ou da TV.

De maneira muito simplista, para mantermos o peso na faixa da normalidade, é preciso que haja equilíbrio entre o que se come e o que se gasta diariamente. Quando ingerimos mais que gastamos, temos como saldo o aumento do peso.

Para o combate e a prevenção da obesidade, a recomendação inclui alimentação saudável com diminuição da ingestão de alimentos ultraprocessados, de frituras, de doces e aumento do consumo de alimentos in natura. Aliado a isso, o aumento da atividade física, que envolve não só a prática de exercícios físicos, mas também ações no dia a dia (preferir escadas ao elevador; descer 1 ponto antes da parada habitual, ajudar o vizinho a carregar as compras) ajudam a queimar calorias.

Uma vez diagnosticada, é importante saber que, habitualmente, a obesidade vem acompanhada por outras comorbidades, como a dislipidemia, hipertensão arterial, apneia do sono, disfunção articular, diabetes, agravos psicológicos e estigmatização social. Por isso, a necessidade do paciente ser acompanhado por uma equipe de saúde multidisciplinar, incluindo cardiologista, pneumologista, endocrinologista, gastroenterologista, psiquiatra, cirurgião bariátrico, além de outros profissionais de saúde como psicólogo, nutricionista e também educador físico.

Mas não é basta ter estes diferentes profissionais. É fundamental que haja interação entre eles, com a definição da melhor proposta terapêutica para cada paciente, debatida entre os mesmos.

O alinhamento das expectativas e necessidades de cada paciente, com a avaliação feita por estes profissionais, num trabalho conjunto, propondo tratamento clínico ou cirúrgico, visam sempre o melhor para o paciente.

No âmbito do Sistema Único de Saúde, são recomendadas políticas públicas voltadas ao enfrentamento da obesidade, com ações que priorizem tributação de bebidas açucaradas e alimentos ultraprocessados; ampliação no acesso a alimentos saudáveis; estímulo à leitura dos rótulos alimentares; restrição da comercialização de alimentos e bebidas com alto teor de gorduras, açúcar e sal, em especial nas escolas; construção de espaços seguros para caminhadas, ciclismo e recreação nas cidades; além de atividades de promoção de hábitos saudáveis voltadas às crianças desde a primeira infância, como a promoção e a garantia do aleitamento materno.

Dra. Natasha Slhessarenko é pediatra e patologista, representa Mato Grosso no CFM, é docente da UFMT, fundadora da Clínica Vida Diagnóstico e Saúde e é Diretora Médica de Análises Clínicas do Laboratório Alta (desde 2018)