Casos de sífilis aumentam pós-pandemia

Por Dra. Natasha Slhessarenko

Os casos de sífilis estavam em ascensão até 2018, no ano seguinte houve estabilização dos casos e foi registrada queda em 2020. No entanto, nos últimos anos, os casos de sífilis tiveram aumento no Brasil em todas as faixas etárias e sexos no período pós-pandemia.

Em 2021, foram registrados no Brasil mais de 167 mil novos casos de sífilis adquirida e 74 mil casos em gestantes. No mesmo ano, foram diagnosticadas 27 mil ocorrências de sífilis congênita e 192 óbitos por esse tipo de sífilis. Esses dados representam uma taxa de 78,5 casos a cada cem mil habitantes, na sífilis adquirida, e 27,1 casos a cada 1.000 nascidos vivos, na sífilis em gestantes. No ano anterior, a taxa de sífilis adquirida havia sido de 59,1 casos para cada cem mil habitantes, e a taxa de sífilis em gestantes, 24,1 a cada 1.000 nascidos vivos.

Até junho de 2022, já haviam sido registrados 79,5 mil casos de sífilis adquirida, 31 mil registros de sífilis em gestantes e 12 mil ocorrências de sífilis congênita no país, totalizando mais de 122 mil novos casos da doença.

Esses dados são do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, que compilou as notificações de sífilis no Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) até 30 de junho de 2022.

Sobre a sífilis

A sífilis é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) curável e exclusiva do ser humano, causada por uma bactéria chamada Treponema pallidum.

A sífilis pode ser adquirida, quando é transmitida de uma pessoa para outra durante o sexo vaginal, anal ou oral sem o uso de preservativo e outro tipo de sífilis é a congênita quando a gestante transmite a doença para o bebê durante a gravidez ou no parto.

A sífilis congênita pode se manifestar logo após o nascimento (sífilis precoce) ou depois de dois anos de vida da criança (sífilis tardia). Durante a gestação, a sífilis pode provocar aborto espontâneo ou parto prematuro. Também pode gerar consequências graves ao bebê, como hepatomegalia (fígado inchado), lesões de pele, icterícia (amarelo na pele), coriza acinzentada e rica em bactérias, anormalidades esqueléticas e neurológicas, miocardite, pneumonia e acometimento renal, que pode levar até à morte.

A sífilis adquirida pode apresentar diversas manifestações clínicas conforme estágio e são classificadas em sífilis primária, sífilis secundária, sífilis latente e sífilis terciária.

O estágio primário caracteriza-se pela lesão característica e indolor (candro duro), localizada na região onde houve a entrada da bactéria. Mesmo sem tratamento, esta lesão desaparece sem deixar cicatriz e pode evoluir para sífilis secundária. Na fase secundária, o paciente apresenta múltiplos sinais e sintomas, sendo clássico as pintas no corpo, acometendo as palmas das mãos e plantas dos pés, além de febre, mal-estar, queda de cabelos, enfartamento ganglionar (ínguas) e dor de cabeça.

Na fase primária e secundária, a possibilidade de transmissão é maior, pois a quantidade de bactérias é muito grande. Na sífilis latente, o paciente não sente nada, só descobre se fizer exame de laboratório. Na terciária pode haver acometimento neurológico e cardíaco.

Como modificar o panorama atual?

Os índices de sífilis em gestantes e sífilis congênita poderiam ser reduzidos com medidas como o tratamento materno adequado durante a gestação, que é feito com penicilina, o mais antigo e um dos mais baratos antibióticos. Investigar e tratar o parceiro, acompanhar adequadamente a gestante durante pré-natal, realizar testes de sífilis em tempo útil, identificar precocemente a soroconversão durante a gravidez e a repetir os testes de sífilis no terceiro trimestre da gestação são outras medidas que ajudariam na contenção desta doença.

Além do reforço no pré-natal, o acesso da população geral a consultas, exames e tratamento em tempo hábil é uma estratégia que deve ser meta de todo governo municipal.

A infecção por sífilis pode colocar em risco não apenas a saúde do adulto, como também pode ser transmitida para o bebê durante a gestação ou parto.

O acompanhamento adequado das gestantes e parcerias sexuais durante o pré-natal, bem como dos casos de sífilis na população geral, é medida crucial para o controle desta doença milenar.

Dra. Natasha Slhessarenko é pediatra e patologista, representa Mato Grosso no CFM, é docente da UFMT, fundadora da Clínica Vida Diagnóstico e Saúde e é Diretora Médica de Análises Clínicas do Laboratório Alta (desde 2018)